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Me diga alguma coisa que eu ainda não saiba.

13 de março de 2018

Eu trabalhava em uma empresa onde desenvolvia diversas apresentações e relatórios sobre mercado. Uma vez por semana tínhamos uma reunião com um dos conselheiros do grupo, um cara com uma experiência enorme de mercado, super reconhecido e que, consequentemente, entendia muito do nosso negócio.

Minha missão era trazer a leitura do mercado que estávamos utilizando para pautar nossas decisões de curto e médio prazo. Pois bem, slides lindos, bem elaborados, e eis que começo a fazer a minha apresentação.

Ele me observava, apoiando o rosto no L feito pelo dedão e indicador da mão esquerda, cotovelo apoiado na mesa, cadeira um pouco reclinada, olhar cerrado como se estivesse prestando atenção em cada palavra e número que eu apresentava. Algumas poucas perguntas durante a minha fala até que, ao final ele olha para mim e diz: ok, agora me diga alguma coisa que eu ainda não saiba.

Se eu pudesse teria virado uma avestruz naquela hora e enfiado a minha cabeça no chão. Um silêncio se fez na sala, que não deve ter durado 3 segundos, mas para mim foi como uma eternidade! E ele continuou: é muito importante você trazer todos esses dados de maneira organizada como você fez, com essa linha de raciocínio, mas o que eu na verdade quero ouvir é a sua opinião acerca disso tudo. O que você nos orienta fazer a partir do que você concluiu com tudo isso?

Esse foi um dos melhores feedbacks que eu já recebi na vida. Nessa hora eu me lembrei de quantas e quantas vezes eu apenas replicava notícias de jornais de grande circulação, achando que assim estaria levando a informação adiante. 

Com o tempo entendi que, nesse caso, quando a notícia sai no jornal, muitas vezes ela é apenas a evidência de algo que estava sendo articulado há muito mais tempo e que ali apenas se tornou um fato público. Para os líderes da empresa que estavam em constante contato com outras pessoas, associações e empresas, aquela na verdade já era uma notícia velha.

Assim, eu compreendi que o serviço exclusivo que a empresa estava contratando de mim era a minha opinião, e principalmente, a antecipação de algum cenário, fato, situação que fossem realmente relevantes para os objetivos da empresa. E essa opinião somente eu poderia dar, pois nela estava contida meus valores, minha cultura, meu olhar crítico, minhas experiências, meus contatos, enfim, ali estava o meu DNA.

Quando eu mudei meu comportamento e comecei a imprimir a minha marca, a minha opinião, eu passei a me sentir mais confiante. No entanto, aí é que mora o perigo. Quando nos sentimos confiantes demais, passamos a acreditar que podemos opinar sobre tudo e esse é um dos grandes males da atualidade. Precisamos compreender (e aceitar) que não ter uma opinião é também uma opinião.

Ou seja, conhecer os fatos, interpretá-los e não chegar a uma conclusão, ou abster-se de compartilhá-la, também é importante, principalmente porque poupa um recurso muito valioso: o tempo. O mundo está cheio de pessoas que opinam demais sobre assuntos que conhecem “de menos”.

Dar a opinião não significa estar sempre certo e nem que as pessoas tenham que concordar com você, isso na verdade pouco importa. Para mim significa algo muito maior: que você deixa de ser apenas um ator representando um papel e passa a ser o autor da sua história.

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